sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Um grande lançamento

Por entre as ruelas estreitas e abarrotadas da Saara, é certo encontrar nas esquinas mais movimentadas vendedores de DVDs piratas. É raro, no entanto, ver um deles caminhando solitário em busca de novos consumidores. Normalmente, se juntam em grupos de dois ou mais e conversam animadamente como se ignorassem os potenciais compradores passantes - mas não lhe faltam clientes. Isso acaba, junto com o fato de que o que fazem é ilegal, lhes dando um ar mais meliante ainda.

Os DVDs são expostos em grades brancas que se subdividem de acordo com a categoria de filme: infantil, pornô e o resto. De acordo com um dos vendedores com quem conversei, o que mais vende - “você vai me perdoar de dizer isso, viu, moça?” - são os pornôs mesmo. Depois vêm os infantis, seguidos pelos “polícia e bandido”, também conhecidos como favela movies.

Essa categoria, que (ainda) não merece sua própria subdivisão na grade, vende bastante se tivermos em mente o fato de que não existem tantos filmes assim dentro dela. Isso, no entanto, não impede os vendedores de sempre terem inúmeros sucessos para oferecer àqueles que estão buscando um pouco de perseguição policial à La Rio de Janeiro.

Se o cinema parou em Cidade dos Homens e Última Parada: 174, a Saara já lançou Tropa de Elite 2, 3 e 4 e ainda cria novos hits como o Cara e Coroa, que “ainda não saiu nos cinemas” - disse um vendedor, como se querendo me induzir a acreditar que aquele seria um repeteco promissor do Tropa de Elite.

OK, comprei a idéia, ou melhor, o Cara e Coroa, por dez reais. Bem que eu tentei por menos, mas o cara que me vendeu disse que ele só tinha a versão pintada e não mais a que é só mídia, mais barata. Traduzindo: ele só tinha a que vem com caixinha, encarte e o DVD caracterizado por um adesivo com o nome do filme, e não mais aquela que é só o DVD, identificado por uma caneta azul, enfiado em um saquinho plástico poeirento.

A capa do meu DVD pirata recém adquirido trazia imagens de policiais vestidos de preto revistando bandidos magrelos e sem camisa virados para uma parede de tijolos e cimento – cena não encontrada no filme, aliás. Perguntando a outros vendedores, descobri que o filme, ainda apócrifo para mim (não tinha o nome de ninguém na capa), era um grande sucesso da pirataria brasileira. Parece que tem sido vendido em camelódromos de todo o país.

Chegando em casa, morta de curiosidade, logo fui assistir o DVD de origem obscura. Pensei, sem grandes esperanças, que poderia ser um documentário sobre favelas no Rio - ou muito antigo ou estrangeiro no estilo Discovery Chanel, como são alguns dos Tropas de Elite encontrados na Saara. Nunca poderia imaginar que de fato era um lançamento. Eu tinha em mãos um filme inédito!

Bom... Na verdade...

Tratava-se de uma produção independente tosca e sanguinária: os planos tendiam a cortar cabeças. Com armas de plástico e liderados por um chefão que mais parecia o gordinho que me vendeu o DVD do que com qualquer protótipo de Marcinho VP, os traficantes não convenciam. Pela quantidade de agradecimentos no final do filme, todos os atores pareciam ser amigos quebrando um galho para Leo Colle, diretor, roteirista, produtor, figurinista... Enfim, o cara que fez o filme.

Cara e Coroa é um curta-metragem (tem aproximadamente 20 minutos de duração) sobre um policial corrupto que recebe dinheiro de um traficante de drogas do Morro Cabeça de Porco e seu filho, um policial honesto que quer acabar com aquela palhaçada. O pai, o coroa, e seus dois comparsas bigodudos sempre iam ao morro, no estilo malandrinho de óculos escuros e colete à prova de balas, coletar o arrego, e acaba tendo uma surpresa ruim ao final do filme.

Essa obra prima da pirataria é realmente uma das produções audiovisuais mais toscas que eu já vi. (Vindo de uma estudante de comunicação, acho que isso não quer dizer pouca coisa – dá pra imaginar o número de “produções independentes” que a gente vê por causa dos nossos coleguinhas.) Por isso, recomendo. Você vai rir bastante. Além do mais, ele pode ser achado no You Tube, não custando mais do que alguns minutos.

Para animar aqueles que não são muito fãs de filmes toscos, chamo atenção a uma das melhores parte do filme: a traficante lésbica. Magrinha, meio corcunda, vestida como um menino de 12 anos e com um boné para trás, ela é de longe a melhor personagem já inventada pelo favela movie. Com direito a beijo e tudo, a traficante lésbica deixa Capitão Nascimento no chinelo. Tá, não é para tanto.

Acho que a criação de personagens históricos dos filmes “polícia e bandido” está se tornando uma competição. É como inventar o mais novo super-herói, ou alguma coisa do gênero– com o carimbo Rio Favela City, para aqueles que gostam de exportar.

Pois é, fazer um filme brasileiro de sucesso hoje em dia parece até bastante simples: comece seu filme com um funk, coloque muitos meninos magrelos com armas maiores do que eles para correr, institua dois vocabulários que simbolizem a divisão do seu grupo de personagens em dois, tenha um grupo de homens de preto e óculos escuros a sua disposição, coloque uma favela na história e pronto! Mas tente escolher um funk bombante. Ajuda muito.

Agora, para ser sucesso nacional mesmo, a fórmula é simples: faça com que um bom distribuidor de DVDs piratas goste do seu filme.

2 comentários:

leo colle disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
leo colle disse...

Bom creio que voce como uma estudante de comunicação,que era na epoca,aprendeu a dar o direito de resposta.
iniciando,o nosso armamento era real,e não de plastico,são pistolas pt380,fuzil 7.62,ar 15,uma ou outra replica,ate porque não havia o porque de tanta arma real,e o mesmo é feito em todas as produções,inclusive nas mega produções.
cara e coroa foi feito com 2 mil reais,e rendeu mais de dez milhões de reais,segundo fonte jornal o globo,dito por um critico de cinema que é formado,e não um simples estudante querendo tirar onda de critico de cinema,e de uma empresa seria e respeitada.
o mesmo filme,cara e coroa(tosco) segundo voce,2 anos depois,ou seja em 2010exatamente ou seja menos de 2 anos pois ele foi gravado em 16 de agosto de 2008,e so apareceu 3 meses depois nas ruas
ele ,voltou a ser campeão de vendas,engraçado isso.
esse filme foi feito,em 5 horas apenas,e eu o diretor,roteirista,figurinista,como vc mesmo disse,estava sozinho,e sem equipamneto,pois falharam comigo,mas falharem comigo não significa que eu falhe com os outros.
falar é facil.
fazer é que são elas.
voce esta iniciando sua careira de forma errada,primeiro se informe,depois informe.
tenha a dignidade e ombridade de postar,meu comentario.
pois engoli,sua critica 2 anos sem rebater,porem provei mais uma vez sua incapacidade de julgar alguma coisa.
me acha no meu orkut,com foto de outras produções.
meu orkut é leo colle.
beijos